Lusofonias, o Desporto e a Fé abraçados
Tony Neves - Roma
Ao falar de um mundo sem fronteiras, como aquele que o desporto tenta construir, o Papa usou o exemplo do cristianismo. Disse: ‘O Evangelho foi trazido de fora para o continente europeu. E ainda hoje as comunidades migrantes são presença que reavivam a fé nos países que as acolhem. O Evangelho veio de fora!’.
Apresentando o exemplo de Jesus, lembrou que Ele ‘não é um muro que separa, mas uma porta que nos une’. Usou como inspiração a figura de um grande santo missionário: ‘Como Ireneu em Lião, no século II, em cada uma das nossas cidades, voltemos a construir pontes onde hoje há muros!’.
Os cerca de 400 participantes na Conferência Internacional sobre Desporto, organizada pelo Dicastério para a Cultura e Educação, liderado pelo Cardeal Tolentino Mendonça, tomaram a direção do Auditório Agostiniano, saindo por uma porta dianteira da Basílica e passando junto à Casa de S. Marta, onde o Papa vive. Após uma pausa para café e bolos, o Cardeal Tolentino saudou os presentes, feliz por ser possível ali pôr em prática um diálogo profundo entre a fé e o desporto. Há sempre espaço para uma reflexão poliédrica, privilegiando a arte da escuta comum.
Na opinião do Cardeal madeirense, o desporto deve ser uma escola relevante de valores e torna-se um lugar de esperança, combatendo a cultura da exclusão. Recordou que, pela primeira vez na história, o Giro de Itália em bicicleta passou pelo Vaticano e os ciclistas foram recebidos e saudados pelo Papa, a 1 de junho. Leão XIV também recebeu a equipa do Nápoles, vencedora do campeonato italiano de futebol. Nesse dia, O Papa lembrou que ‘quem vence o campeonato é a equipa. O valor está no conjunto, na beleza da comunidade. Quando vence o grupo, a vitória é de todos e para todos’. O cardeal Tolentino concluiu dizendo que ‘mesmo as vitórias individuais têm por detrás do atleta toda uma grande equipa’.
Thomas Bach, Presidente do Comité Olímpico Internacional defendeu que ‘o desporto é um grande lugar de vivência de valores humanos profundos’. O ideal olímpico, ‘mais rápido, mais alto, mais forte!’ tem tudo a ver com os valores da Fé. Referiu, finalmente, os programas de solidariedade olímpica, com a destinação de vários milhões de dólares ‘para promover a solidariedade e a paz e para tentar colmatar o fosso que está a criar tanta desigualdade no mundo’.
Esta Conferência teve um título provocador: ‘o impulso da Esperança: históriasalém do pódio’. Dos nove convidados para participar em dois painéis, marcaram-me particularmente três. Começo por Sérgio Conceição, homem assumidamente católico praticante, que agradece a Deus cada dia que Ele dá e pede força pelos momentos em que fica mais abalado. Recordou a luta que está a ser a sua vida, desde que perdeu o pai aos 16 anos e a mãe aos 19! Disse tentar transmitir à família, aos jogadores e a quantos com ele se cruzam, os valores cristãos em que crê profundamente. Acredita na força da esperança e nos valores que ajudam a construir um mundo melhor.
Letsile Tebogo é um atleta do Botswana, e enquanto sub-20, duas vezes campeão do mundo nos 100 m, de que detém ainda o record mundial. Foi medalha de ouro dos 200 m, nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024. O seu testemunho, várias vezes aplaudido, mostrou a simplicidade da sua vida e a profundidade da sua Fé em Cristo.
Marcante e emocionante foi a partilha feliz de Amelio Grueso. Nascido na Colômbia, perdeu a locomoção num acidente de carro, aos 20 anos. Conseguiuvir para Itália onde obteve o estatuto de refugiado (2023) e pôde treinar com regularidade. Alcançou uma medalha nos Jogos Paralímpicos e, com um sorriso nos lábios, confidenciou: ‘É preciso perseverança para ganhar. Sem esperança e sem Deus eu não teria conseguido fazer nada!’.
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